& d'entam meu mal me dura. mas porque, meu bem, vos via, vossa dor nam me doya, 5 porc'o mal que me fazia, Vossa vista m'o curaua. Por ysso nenhum mal vosso pera mym nam era mall, que com todo o vosso posso; 10 mas este he d'ambos nosso, & por ysso me fez tall. ca ss'ele fora soo meu, sem vos terdes parte nele, tudo bem soportar'eu; 15 mas vossa morte me deu a mym morte que nam ele Assy que por ysso ja desespero de folguar, porque sem vos ca nam ha 20 pera mym, nem s'achara quem prazer me possa dar, nem menos quem mal me faça, nem de quem seu dano synta, em cuberto, nem de praça: 25 nem em jogo, nem por graça meu coraçam quer que mynta. 30 ynda que, triste, nam sey tam triste vola pyntar: viuerey sempre chorando, viuerey mal me dizendo, por vos, meu bem, sospirando, [F. 88a] por vosso mal brasfemando, Farey vida contemprando, falarey comigo soo, 5 sempr'em vos triste cuidando, nunca d'outrem me lembrando, & aqui darey o uoo: cada vez que ca vyr festas, pera mym an de ser dores, 10 por sestas lembraram s'estas, & onesta por onestas, & por amores amores, Huum tempo outro lembrara: ver damas lembrança faz, 13 ver payxam payxam faraa, ver prazer a dobrara, em qu'em mym dobrada jaz. serãos lembram os que ja vy, noyte faz noyte lembrar, 20 esperança a que perdy, dia lembra dia aquy, per lunar lembra lunar. Uer casas em que vos vy, ver com quem em vos falaua 25 lembrando m'o que perdy, ho triste, que nam morry, 30 qual he o que poderaa qu'ante morte nam quisesse? Ora ja tud❜yst'acabe, escusa de mays lembrança, [F. 88b] ca pera quem ela cabe, a verdade milhor sabe quem me tyrou esperança. ca lembrança, nem sem ela, 5 nunca muda fe ynteira. foy & serey sempre d'ela: meu corraçam esqueçe-la nam quer, nem pode que queyra. Fym. Acabade-'e minha vida 10 & meus tristes fundamentos, ja fez fym, ja he perdida, j'acabou, j'e destroyda, mas nam ja meus penssamentos. estes seram sempre viuos, 15 estes tereys sempre laa; eu com cuydados esquiuos, cuydando no que j'ouy-uos, farey fym muy cedo caa. Cantiga sua. Senhora, soes perygosa, 20 a vos ninguem se rregyste; nam soes nada piadosa, Fostes do rreyno lançada 25 por nele fazerdes mall; nam coma dama ynfernada, mas coma cousa danada destroyeys Portugall. tal yda foy mays danosa: 30 coraçam, tu o sentiste. [F. 88o] ho crua, nam piadosa, soes sobre todas fermosa, & eu sobre todos triste! Glosa sua a esta cantiga. 1 Con qualquer pena que yo siento, 5 ver meu dano tam sobido, ver meu triste perdimento, mas pois he, nam quero vida, Yo viuo mucho contento, por vosso gram pareçer. ver meu mal sempre presente, 20 com tudo fora contente; mas no com vuessa partida. Mas a todo my penar, 25 meu mal nam fora canssar, ja a meus tristes cuydados 30 huum solo rremedio cale. 1) A cantiga á qual se refere a glossa, no original hé omittida. El qual es siempre penssar em vossa gram fremosura, pera meu mal esforçar & milhor poder passar 5 mynha gram desauentura. mas que co'ela me cale, poys que nela ey d'acabar, meu descansso he cuydar en la causa quanto vale. [F. 88d] A qual ja d'entro em mym jaz, tanto nos boffes metida, que m'entristece, & me faz que me pese co'a vida. 20 çesse vossa crueldade, 25 nam me mate esta tristura. |