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uma esquadra d'ElRei D. Affonso V, depois de chegar aos portos de Italia para se reunir á grande expedição promovida pelo Papa Pio II, voltou sem effeito em consequencia do pouco zelo e da avaresa deste Summo Pontifice. Lembrou-me então addicionar alguma cousa a uns pequenos Apontamentos, que fiz em Dezembro de 1849, e submette-los ao acertado juizo da Academia, porque nelles referi a expedição do progenitor de nossos Reis á Palestina, como um facto apoiado em legitimos documentos, e recebido por Brandão, e posteriormente por alguns de nossos sabios Academicos: em segundo logar procurei inquirir quaes forão ao certo os Portuguezes, que tomárão a Cruz no seculo 12: em terceiro remontei um pouco mais alto a concessão das graças da Cruzada aos Portuguezes, auxiliado em parte por documento, que louvárão os nossos Antiquarios; e agora procurarei provar ainda melhor essa concessão com outros, que tive presentes: de mais disso julguei, que era para mim dever sagrado lembrar o, que podesse em abono da memoria posthuma de Pio II contra Manoel de Faria e Sousa; e isso fiz, como me foi possivel.

Embora se possa attribuir ás Cruzadas terem introduzido as sociedades secretas na Europa, transplantando da Syria e de outras partes do Oriente para ella o germen de systemas desorganisadores, que se tem modificado e reproduzido, bem póde ser que um milhão de vezes, com tudo, ou essas expedições se considerem em relação ao desenvolvimento dos brios da Cavallaria, e aos factos, com que no levante se fizerão respeitar as armas Christãas, ou em relação ao seu fim, quer religioso quer politico, eu não posso deixar de me condoer do abandono dellas. Não ha, assim mesmo, fundamento para lançar-lhes em rosto essa grande calamidade, porque vemos todos os dias, que das instituições mais innocentes provêm males, ou que ellas degenerão consideravelmente, sem que a culpa seja sua; e para que eu as defenda, basta que Voltaire e outros taes as condemnem: entre tanto menos cuidado me dão os inimigos, que os falsos amigos, como Manoel de Faria e Sousa, que imputou o seu abandono aos Summos Pontifices, mas esteve tão longe de.ser sincero, como de ser bom critico, porque a Santa Sé esforçou-se quanto pôde, até que vendo inuteis suas diligencias desistiu dellas, cessando de pretender o, que senão queria, e appellando nesta questão dolorosa para o Tribunal Divino, em quanto « Sião estende as mãos e não acha, quem lhe de alivio porém ella mesma lamentando a sua viuvez e a sua desolação declara a causa de seu infortunio « a multis derelicta sum, propter peccata filiorum meorum, quia declinaverunt a lege Dei. »

1.

APONTAMENTOS.

Um dos factos mais estrondosos, que vio a terra, foi o

UM

das Cruzadas da Europa no Oriente pelos seculos 11, 12, e 13. As Cruzadas são um facto glorioso para a Europa; um facto, que manteve sua liberdade, onde por então restava, esmigalhou as algemas da tyrannia, onde tinha imperio o islamismo, e lhe deu grandes triunfos sobre seus inimigos; um facto, sem o qual, póde dizer-se problematica a salvação de Hespanha em face do engrandecimento dos Turcos naquelle primeiro seculo; porque ella era nesses dias opprimida, como nenhuma região da Europa. Desde o seculo 8.°, em que foi subjugada, principiou a emancipar-se unicamente á custa de sangue; e continuou sem alheio soccorro até á infeliz batalha de Zalaca, onde pela primeira vez foi auxiliada por braço estrangeiro, e onde esteve a ponto de arruinar-se totalmente; mas nem por isso entre as angustias, que The causou, soube dar escusas, quando seus filhos erão necessarios para combater o inimigo commum em terra longiqua; porque consentiu, que elles tivessem parte nas guerras da Syria, apesar dos Almoravides. Em 18 de Novembro de 1095 no Synodo de Clermont poblicou o Papa Urbano II a primeira Cruzada contra os Turcos, que occupavão a Terra Santa, e desde as margens do Bosforo ameaçavão a Europa inteira. A Christandade toda obedecendo á voz do Chefe da Igreja organisou tres formidaveis exercitos; combateu e venceu em Antiochia, Edessa, Jerusalem, e Tripoli; levantou Monarchia na Asia, erigindo um Reino na Palestina, dous Principados na Syria, e um na Mesopotamia, e forrou da escravidão mussulmana o Occidente. A maior parte desses exercitos era na verdade de França, Italia, e Allemanha, porém não faltárão Cavalleiros e soldados de Inglaterra, e de outros Estados do Norte, então, e nas futuras expedições.

2.° De Hespanha duas vezes se poz em marcha o Arcebispo de Toledo, Bernardo, segundo affirmou Rodrigo Ximenes seu successor : da primeira, uma sedição na Cathedral o obrigou a voltar; e da segunda uma ordem, que daquelle Summo Pontifice recebeu, quando chegou a Roma. Não aconteceu o mesmo com tres nobilissimos Barões Guilherme II Conde de Cerdanha, Guilaberto II Conde do Rossilon,

e Guilherme de Canet; porque elles seguindo a Raymundo IV Conde de Tolosa e. S. Gil, e reunidos ao Chefe espiritual da Cruzada Amaro Bispo de Puy, combatêrão valerosamente ás ordens de Godofredo Chefe temporal della, e por fim Rei de Jerusalem. O primeiro desses Senhores, que foi chamado Jordão, em todas as luctas se mostrou dos melhores auxiliares do Conde de Tolosa seu tio, e erigiu no Principado de Tripoli, perto da capital, a povoação de Archas. Do segundo errárão o nome os Escriptores do Gesta Dei, mas não lhe calárão as gloriosas acções, de que muitos documentos fazem menção. Ácerca do terceiro conservão boa memoria arestos daquella idade, e honrosa noticia deixou de sua pessoa o Chronista Zurita. Á frente de grande numero de Cavalleiros e peões sahírão estes Capitães, e por igual modo o Arcebispo: com quanto porém não se saiba pelo Prelado Ximenes of destino do exercito de seu antecessor, é certo, que da Hespanha central se achárão bons Cavalleiros na primeira Cruzada, e o teste-. munhão escripturas das mais illustres casas della. O Academico Navarrete sobre legitimos fundamentos mencionou alem daquelles tres primeiros Catalães, outros dessa Provincia, como uma Senhora chamada Azalaida, que partiu com tropas da Cruzada em 1104; os Cavalleiros Guilherme Raymundes, e Arnaldo Miron em 1110; o Conego Guilherme Benengario, que em 1111 se achava em Tripoli na companhia de outros patricios seus Guilherme Jofre, Cuculo seu irmão, Pedro Gueráo, Arnaldo Guilherme, Raymundo Folch, e Pedro Miron: de mais destes Arnaldo Volgario, que estava de partida para alem mar em 1116; e logo os dous insignes Prelados de Barcelona Santo Oldegario, que lá andava em 1124, e Arnaldo, que para lá se foi em 1143 depois citou elle outros, da Castella, como o Conde D. Rodrigo Gonçalves, que por desgostos na côrte de Toledo partiu em 1134, e fundou em Jerusalem o Castello de Toron; da Galisa, Conde D. Fernando Pires, de quem bastante noticia temos em nossos documentos do tempo do governo da Rainha e Senhora D. Tereza, que havia regressado de Jerusalem em 1153; e ainda mais alguns. Michaud deu louvores por suas gentilezas um Hespanhol, conhecido pelo Cavalleiro das armas verdes, que se tornou celebre na defesa de Tyro em 1187, e de Tripoli em 1188, e era famoso por seu nascimento e extremadas virtudes, segundo se acha no texto de Guilherme de Tyro; e alem delle a Pedro natural de Barcelona e Prior do Sepulchro, os quaes ambos ali combatêrão durante a segunda e terceira Cruzadas, Nestas, como nas seguintes, se manifestou o valor dos soldados dos differentes paizes Christãos da nossa Peninsula; mas eu não tenho agora o intento de referir suas acções.

3. Manoel de Faria e Sousa nas Notas ao Nobiliario do Conde D. Pedro, columna 2.a de pag. 34 (da edição de Roma) escreveu, que Thomaz de Feria, Guilherme Carpinteiro, e Mendo Laude estiverão na primeira Cruzada, e erão Portuguezes. Quanto ao primeiro não dá outra prova de sua naturalidade, senão a existencia do Castello de Faria na Provincia do Minho, e a mudança que ordinariamente se fez da letra a da primeira syllaba de Faria em e, porque a elle proprio em Madrid chamavão Manoel de Feria. Que Thomaz de Feria esteve na primeira Cruzada o mostrão monumentos de authoridade; porém as provas de Manoel de Faria e Sousa não provão, que fosse Portuguez. Ácerca de Guilherme Carpinteiro fundou-se elle no alcunho Carpinteiro de uma familia de nossa terra para o fazer Portuguez: se isto fosse bastante prova de sua naturalidade, pouco trabalho me daria collocar um Portuguez deste nome entre os soldados de Godofredo, porque ás ordens deste illustre General serviu um Cavalleiro, que assim se chamou: entretanto o Monje Roberto na Historia Hierosolimitana liv. 4.,. no Gesta Dei a pag. 48 do primeiro volume, disse, que elle era Visconde do Castello de Melum, e que se chamava Carpenta-rius, quia in bello nullus volebat ei occursari: se Manoel de Faria e Sousa lesse isto, de certo não o considerava Portuguez. A respeito de Mendo Laude não vi aresto algum, que estivesse na Palestina; e não era sufficiente prova, que um Cavalleiro deste nome, lá encontrado, se dissesse Portuguez só pelo facto da existencia do Mosteiro de Laudes no dstiricto de Faria, como pretendeu aquelle commentador do Conde D. Pedro, em verdade muito erudito, porém fraco historiador e máo genealogico: além disso accresce, encontrarmos fóra de Portugal a Pa-tricio de la Laude Cavalleiro Brabantino, de quem Rogero Hoveden fez menção pelos annos 1173 na parte primeira de seus Annaes a pag. 535. O. Academico Alexandre Ferreira nas Memorias dos Templarios pretendeu serem Portuguezes e soldados de differentes Cruzadas Arnaldo da Rocha, Pelagio de Brito, Thomaz de Feria, e D. Sueiro Raymundes: veremos, se teve razão. Confessando elle pelo testemunho de Moreri, que a familia de Rocha é Franceza, disse, que Arnaldo podia ser Portuguez, porque havia em Viana do Lima este appellido, mas nem ao menos lhe lembrou examinar desde que tempos lá existia: não ha necessidade de fazer questão disto, porque é constante, que Arnaldo da Rocha um dos primeiros Cavalleiros do Templo era Francez. Alexandre Ferreira, lendo o catalogo do Gesta Dei encontrou Pelagius Brito: o nome é Peninsular, e da parte de lá do Douro existem rio. e logares chamados Brito; de mais houve neste Reino uma familia deste appellido, de quem muitas descendem: tudo isto pesou na. almas

do Academico para nos favorecer com um Pelagio de Brito; e eu estou certo, que se elle soubesse quem era, faria muitas diligencias para mostrar, que nunca foi Portuguez: primeiramente é necessario advertir, que o Brito no Gesta Dei significa Bretão, como entre outros logares achamos a respeito de um Cavalleiro da primeira Cruzada, nomeado Conano, a pag. 664 do referido primeiro volume Conanus. . de Britania, e a pag. 723 Conanus Brito: por desgraça o autor do catalogo nem lhe poz remissões, nem foi muito exacto; e Alexandre Ferreira não se deu ao trabalho de inquirir no texto, quem era esse Pelagio: entretanto não foi só isto, o autor daquelle catalogo não viu naquella obra Pelagius Brito senão a pag. 472 desse vol., porque lá não ha outro; e esse, que ahi se acha, é o famoso autor da heresia Pelagiana: basta por aqui. Fundou-se o Academico Ferreira para dar a Thomaz de Feria naturalidade Portugueza, como Manoel de Faria e Sousa, em que as palavras Castro Francigena, que se pozerão depois do nome, não erão de Guilherme de Tyro, liv. 1. cap. 29. pag. 649 do cit. vol., porque lá se não encontravão; mas de Alberto de Aquis, na Historia Jerosolimitana liv. 2.° a pag. 205 do mesmo vol., onde se interpolárão: não bastava só dizel-o, era preciso mostral-o pela confrontação de outros codices; mas Alexandre Ferreira contentou-se com supô-lo: no lugar, de Guilherme de Tyro, por elle apontado acha-se « convenerant. . . . ex occidentalibus finibus turbae innumerabiles et peditum manus infenita absque duce et rectore.... Erant.... inter eos viri quidam nobiles Tomas de Feria, Clarenbaldus de Vendiolo, Willelmus Carpentarius, comes Hermanus, et ali nonnulli. O segundo e quarto não quiz elle, que fossem Portuguezes, que acompanhassem essas turbas desordenadas e innumeraveis de peregrinos: e porque não serião tambem estrangeiros o primeiro e terceiro? Thomaz de Feria nunca foi Portuguez, porque a interpolação é imaginaria, e Guilherme Carpinteiro, como lhe chamárão, nasceu alem dos Pyreneos, como fica provado. De Soeiro Raymondes logo direi.

4. Não ha duvida, que o Arcebispo Guilherme de Tyro contrahiu á primeira Cruzada o « ex occidentalibus finibus » mas tenho-a cu toda em applicar a Portugal e ainda a Hespanha esses bandos sem chefe, de que fallou neste logar. O Prelado escrevendo na Asia podia empregar o finibus na razão da distancia; e que o fez assim, se vê de Alberto de Aquis no liv. 1. cap. 26 pag. 194, o qual fallando desta expedição insana, a propria, que a não serem os Prelados de Worms, Treveris, Maeynce, e Spira, estrangularia todos os Judeos da Europa, disse haver-se organisado de Francezes, Inglezes, Flamengos, e Allemães. Supposto isto falta naquelle texto subsidio a favor de Portuguezes, que militassem nos exercitos, que pelo seculo 11 passárão ao

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